O Diálogo Florestal, entidade que facilita a interação entre empresas da área de base florestal e organizações ambientalistas e movimentos sociais, com o objetivo de construir visão e agendas comuns entre esses setores, completou 15 anos de atividades. Para celebrar esse marco e refletir sobre o futuro, a iniciativa realizou uma série de debates virtuais, como parte do “Encontro Nacional Diálogo Florestal 2020”, nos dias 22 e 23 de setembro de 2020. Um deles foi o painel “Pandemia e desafios da humanidade: reflexões para o mundo que queremos”, no dia 23, com a participação de Roberto Waack, Maurem Alves (CMPC, fabricante de celulose e papel) e Miriam Prochnow (Apremavi – Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida).
Na fala de abertura, Roberto falou que incerteza é a palavra-chave do momento, e a questão é como acolhemos esse mundo de incertezas e lidamos com seus reflexos. Destacou que a pandemia reforçou certas discussões que já vinham sendo feitas, em especial, a conexão que existe entre a desigualdade social e as mudanças climáticas.
Também falou sobre como, neste momento de incertezas, é difícil até formular perguntas e, mais ainda, as soluções. Por isso, é importante exercitar o diálogo mais do que nunca. Isso envolve a escuta, a valorização da diversidade de vozes e o acolhimento do conflito. “Não tem como não aprender a conviver melhor com conflitos e ambiguidades, aceitando que é algo natural, e que lidar com situações complexas e a diversidade é o que temos de mais valioso.”
A partir do diálogo, será possível definir caminhos a seguir no mundo pós-pandemia. E muitas das soluções estão ligadas ao capital natural, a soluções baseadas na natureza e, dessa forma, às atividades florestais, destacou.
A retomada econômica terá que ser verde – esse sinal é claro. Mas quando e como acontecerá? A relação entre mudança climática e governabilidade das questões sociais vai aparecendo de forma muito forte nas agendas do reconstruir verde. As empresas terão de levar, cada vez mais em consideração, a gestão de suas externalidades, incluindo, nessa avaliação, a escuta do que a sociedade como um todo está dizendo. “O que é evidente é que não será possível continuar a ignorar a desigualdade, as mudanças de padrões de consumo e de modo de vida”, afirmou.
Em sua fala, Miriam Prochnow disse que a pandemia da Covid-19 mostrou a vulnerabilidade da humanidade quando ela avança na destruição da natureza e o quanto não estamos preparados para isso. Para ela, a retomada verde pode ser uma oportunidade para lidar não só com essa crise, mas também com a emergência climática, que será “um grande tsunami”. E afirmou que o Diálogo Florestal deve pensar em como contribuir com as soluções, saindo, inclusive, de sua zona de conforto.
Se o diálogo é o caminho, como fazer para driblar a insistência do ser humano em não estar realmente aberto ao diálogo, de tender a buscar informações que confirmem as crenças, ainda que a ciência esteja lá, com as evidências? Esse foi um dos questionamentos apresentados por Maurem Alves.
Roberto disse que a ciência precisa encontrar uma forma de se conectar com a emoção, os sonhos e as memórias das pessoas. “A beleza do que estamos vendo e temos que prestar atenção é que a racionalidade científica e técnica vai ter que conviver mais com o lado sensível e emocional das pessoas envolvidas”, afirmou. Miriam reforçou que esse tipo de reflexão é um contraponto importante para quem diz que mudanças acontecem apenas quando tudo é monetizado. Quando se tem a emoção envolvida, isso ajuda um proprietário rural a pensar duas vezes antes de vender a floresta, por exemplo.
Os painelistas também conversaram sobre como o Diálogo Florestal, com sua experiência de 15 anos e muitas iniciativas de sucesso, pode contribuir com essas questões tão urgentes a partir de sua expertise.
Acesse e assista ao debate aqui. O painel começa no minuto 55.
[Foto: Public Domain/Pixabay]