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ESG na prática: restauração com impacto socioambiental e econômico

por | 16/10/2021 | Externalidades, Mudanças climáticas

A conexão e as oportunidades da restauração florestal para a agenda ESG das empresas foi tema de um dos painéis do evento “ESG na Prática”, promovido pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) em parceria com o LinkedIn no dia 4 de outubro. Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, foi o mediador do painel, intitulado “Restauração com impacto socioambiental e econômico para a empresa”, que teve a participação de Laury Cullen Jr., pesquisador do IPÊ e coordenador dos projetos de restauração no Pontal do Paranapanema (SP), Taciana Abreu, diretora de Marketing da Farm, do Grupo Soma, Marcela Porto, head de Comunicação da Suzano, e Plinio Ribeiro, cofundador e CEO da Biofílica Ambipar Environment.

Roberto abriu o painel afirmando que a restauração florestal se insere no contexto da economia da conservação e das Soluções baseadas na Natureza, que são crescentemente discutidas por investidores, setor privado, mídia e academia. O Brasil, afirmou, é um dos principais atores do campo florestal, não apenas por seu amplo território, coberto por florestas tropicais, como pela indústria de celulose, que é sólida e pujante. Ao mesmo tempo, o país tem em seu território amplas áreas de paisagens degradadas. “Aí existe uma oportunidade muito grande para se combinar as atividades econômicas e sociais com as ambientais e o fortalecimento dessa economia da restauração”, destacou.

A relação da restauração florestal com a emergência climática é evidente, por sua capacidade de captura de carbono. Essa discussão passa também pelas externalidades, que precisam ser incorporadas aos modelos de negócios das empresas, afirmou Roberto. “Vamos falar um pouco sobre como esse tema da restauração florestal, de externalidades e emergência climática combina com o mundo da ciência, empresarial e da sociedade civil.”

Laury Curren Jr., do IPÊ, apresentou o projeto Corredores da Vida e o Mapa dos Sonhos da região do Pontal do Paranapanema, no oeste paulista. “Se conseguirmos restaurar 15% de áreas prioritárias, dá tempo de evitar 60% de extinções de espécies projetadas e sequestrar 30% do que foi emitido de carbono após a Revolução Industrial”, afirmou. Destacou, ainda, os benefícios econômicos e sociais. “Estima-se que cerca de 200 empregos são criados para cada 1.000 hectares de restauração com intervenção humana.”

Em um modelo de negócios que tem sido trabalhado na região, a Biofílica prospecta compradores de crédito de carbono de remoção florestal, e o IPÊ prospecta fazendas e faz o mapeamento de áreas para conduzir as atividades de plantio.
Entre as lições aprendidas, estão a importância da confiança, da presença institucional, da ciência, de dar escala e abordar a paisagem e da visão de longo prazo, além de parcerias, afirmou Laury.

Taciana Abreu, do grupo Soma, explicou que a Farm já promoveu o plantio de quase 573 mil árvores, com 300 hectares de área recuperadas e remoção de 100 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente. “O crédito de carbono de reflorestamento é cinco vezes mais caro do que crédito desmatamento evitado. A gente faz porque acredita na soma de benefícios da restauração florestal, como retorno da biodiversidade e impacto social local.”

Marcela Porto, da Suzano, explicou como, com a fusão da empresa com a Fibria, foi necessário para o grupo repensar sua cultura corporativa e propósito organizacional. “A estratégia que se conecta com ESG é que queremos ser referência na criação conjunta de soluções sustentáveis e inovadoras, promovendo bioeconomia, serviços ambientais, a partir do que tem no coração, que é arvore cultivada. A partir dessa visão, desdobramos para o propósito organizacional, divulgado no final e 2020, que é renovar a vida a partir da árvore.”

Plínio Ribeiro abordou os desafios e benefícios do mercado de carbono. Segundo Ribeiro, o crédito de carbono ajuda a mudar a visão de que plantar florestas é um custo. “O mercado de carbono serve para financiar uma atividade que não seria viável economicamente sem ele”, afirmou, acrescentando que há cada vez mais investidores interessados. “Na hora que uma empresa financia um projeto, não só compra crédito de carbono, mas torna possível conectar fragmentos florestais, promover a volta da biodiversidade, trazer benefícios locais em relação a água e polinização, geração de empregos. É um ganha-ganha.”

Na parte final, os debatedores falaram sobre a importância de haver políticas públicas que incentivem a restauração florestal e o mercado de carbono, bem como a economia circular.

Laury Curren Jr. Encerrou o painel trazendo uma reflexão sobre como fazer a agenda ESG evoluir nas empresas. Para ele, essa agenda passa por quatro domínios: liderança, consumidores, sistema de negócios e sistema financeiro. E isso começa na liderança, “tem que ser ambition driven, iniciado por uma grande ambição. A ação climática começa pelo topo, sinalizando prioridades e influenciando os outros players”, disse.

Para assistir ao painel, clique aqui. 

 

ROBERTO S. WAACK

É membro dos conselhos da Marfrig, Wise Plásticos, WWF Brasil, Instituto Ethos, Instituto Ipê e Instituto Arapyaú e visiting fellow do Hoffman Center da Chatham House (Londres). Tem uma longa carreira como executivo e como empreendedor, tendo atuado em empresas nas áreas farmacêutica, de biotecnologia e florestas. Foi CEO da Fundação Renova, entidade responsável pela reparação do desastre de Mariana (MG), co-fundador e CEO da Amata S.A. e CEO da Orsa Florestal, além de diretor da Boehringer Ingelheim e Vallée. S.A. É cofundador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Atuação profissional com concentração em governança, planejamento e gestão estratégica, gestão tecnológica&inovação e sustentabilidade. Formado em biologia e mestre em administração de empresas pela USP.

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